Conforme explica o capítulo anterior, a FEARTEM iniciou-se em 1980 como um dos itens da programação da Semana da Pátria. Item este, que seria a participação obrigatória do MOBRAL/Fundação Educar nas atividades culturais da referida Semana.
Naquela época a educação pública era orientada por diretrizes do sistema educacional vigente, impregnadas de um civismo exacerbado cultuando um ideal nacionalista, calcado nas ideologias de seus mentores para sustentar a tão propagada unidade nacional através do amor à pátria. (Essa era a base de aceitação dos desmandos da ditadura).
Esta que aqui escreve trabalhava numa escola estadual urbana. E como, era também, professora municipal estava a serviço do MOBRAL/Fundação Educar , trabalhando como supervisora das ações do mesmo no município de Quixeré desde 1977.
Quando a coordenação local recebeu as diretrizes para participar como sempre da programação da semana da pátria no município e que naquele ano devia obrigatoriamente desenvolver atividades envolvendo os temas “Semana da Pátria – Semana Cultural”, nós aproveitamos a oportunidade para fixar a data de realização da FEARTEM cujos objetivos era agregar valores ao “Programa de Educação para o Trabalho” PET, promovendo estrututura e sustentabilidade para seus participantes, os artesãos.
O Programa de Educação para o Trabalho tinha por finalidade despertar nas pessoas o interesse para aprender uma profissão e colocá-la em prática. Mas, em Quixeré ele iria bem mais além. Estava organizado para incentivar o trabalho informal como fonte de renda, e por essa razão tinha que organizar os artesãos estimulando a produção individual e grupal, bem como buscar os meios de evitar o “atravessador” que eram os compradores dos produtos para revenda.
Foi aí que surgiu a idéia de uma feira apresentando somente artesanato e artistas da terra, com toda a cultura do município, inclusive comidas típicas, e que fosse realizada em praça pública com no mínimo dois dias de apresentação, envolvendo o feriado de sete de setembro.
Depois que o MOBRAL foi extinto, pouquíssimas pessoas assumem em público ou no seu currículo que trabalharam nesta instituição. Isso se deve à consciência de que o mesmo foi cria da ditadura militar. Nós, ao contrário, até sentimos orgulho de dizer que ajudamos a tocar as ações do MOBRAL no município. Pois temos consciência de que mesmo cumprindo as formalidades que as diretrizes exigiam, utilizávamos o riquíssimo material e outros recursos destinados ao desenvolvimento das ações, para mesmo de forma discreta promovermos a cidadania no ideal de progresso, liberdade e igualdade de direitos e deveres de acordo com os nossos Princípios éticos e morais. Foi assim que o programa de educação para o trabalho – PET – cujo lema federal era: “quem sabe mais ensina quem sabe menos”, foi revertido neste município em projeto de organização dos artesãos para geração de renda e superação da falta de emprego e principalmente promover a auto-estima dos artesãos e dos artistas da terra.
Como naqueles tempos os desfiles de 07 de setembro eram uma verdadeira apoteose, muita gente daqui que mora em Fortaleza aproveitava o feriado para visitar a terrinha. Assim sendo, essa era a melhor data para se realizar um evento que pretendia fazer parte do calendário de eventos do município.
Hoje, os tempos são outros. Mas tudo que é tradição vem do povo. Por isso permanece. E graças à sensibilidade de nossas autoridades, a FEARTEM vem resgatando seus princípios e preservando a data de sua realização. E a pesar de sabermos as razões que levaram o povo a não mais se empolgar com os desfiles de comemoração da independência, achamos que está na hora de começarmos a valorizar o pouco que temos para unidos conseguirmos mais. Vamos cultivar o civismo, o ideal nacionalista, não mais para alienar, como queria a cúpula Governamental, mas para unir forças em prol de um Brasil melhor.
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